Bom desporto,
A sociedade antes do Covid-19 circulava em velocidade cruzeiro, ao pedido para acelerar, nós correspondíamos... Como um diagnostico de uma doença crónica, de um dia para o outro "pediram-nos para abrandar"! Na cabeça de uma pessoa a que lhe é pedido para modificar costumes, o "retirarem-nos" uma certa liberdade, pode influenciar certos comportamentos/atitudes. É aqui que tudo começa, a aceitação do que nos acabou de ser dito.
Durante este período, a única que se manteve intacta foi a diabetes, vive confinada, mas é tudo menos assintomática! Quem está nesta condição, teve e tem de encontrar a melhor forma de a "saber levar", igual a uma relação entre duas pessoas, sem tirar nem por!
O triatlo como desporto ao ar livre, passados 4 meses pôde reiniciar e isso só o podemos agradecer! As adaptações necessárias foram tomadas; mascara no check-in e nos parques de transição, medir a temperatura, assinar o questionário covid-19 e pediram, dentro do possível, algum distanciamento entre todos.
Como o tempo é de adaptações, a única foto que tenho é do meu nOvO código MB...
Era um fim de semana de alerta vermelho, mais de 42°C, por esse motivo as provas sofreram um adiamento... Como fui sozinho, minto, levei uma geleira, pedi autorização e "colei-me na sombra da árvore" do Club Oriental de Lisboa, uma malta com currículo no triatlo nacional, conhecedora e muito simpática.
O calor tem destas coisas na diabetes - atenção que isto não é regra - mas quando "aperta" tem alturas que nos permite "andar em roda livre" às refeições. Faço as mesmas contas aos hidratos de carbono que vou ingerir, mas há dias que após a refeição, sem uma razão muito clara, tenho tendência para fazer hipoglicémia. Isto acontece-me ao longo do ano, mas no Verão, é mais repetitivo.
Já com meia geleira bebida, a registar uma tendência de descida na glicémia, fui beber um café acompanhado de um gelado, no primeiro momento não dei insulina, mas tive de corrigir pois ainda faltavam perto de duas horas... Entretanto vimos sair os atletas da Prova de Apuramento e aguardamos até às 17:30h pela Taça de Portugal, reiniciava o campeonato nacional. Fiz as "contas" e pensei numa hora e meia de prova. Autorizaram-nos uns minutos antes para colocar os bidons com água fresca nas bicicletas, preparei o meu com electrólitos e deu tempo para comer uma banana! Ir descalço da relva para o cais de partida fez-me começar a correr aos saltos, o alcatrão a areia, o cimento do cais, todo o chão escaldava! A saída era em vagas de 4 atletas, posicionei-me e fui para a 1ª prova como atleta federado.
Os 750m de natação souberam à água da minha geleira, fresquinha! Saí de "cabeça à roda" em direcção à bicicleta, tínhamos um circuito de 3 voltas, um sobe e desce repetitivo, foram 18,6Km duros. Na saída para a corrida, passei a ultima vez o FreeStyle que não baixava dos +/- 250mg/dL. Deixei o gel e o FreeStyle, ainda pensei corrigir, mas gritei-me "vai-te embora que agora é tudo plano, são só 4900m"!
É uma versão muito rápida, os elites e outros, fazem menos de uma hora, eu precisei de 1h:26m e alguns segundos, sem necessidade de recorrer ao foto finish… No meu escalão, fiquei a 2 do top 20 nacional! Terminámos 23, portanto é "fazer as contas"...
Agora peço a vossa atenção unicamente para a reflecção e não ao comportamento adoptado, quer-se transmitir informação e desmistificar, não é "passar receitas"!
De manhã, como todos os dias, reparti a Lantus (insulina lenta), mas reduzi as unidades a pensar na prova! Fiz as contas para as refeições com a Fiasp (insulina rápida), tive a tendência de descida depois do almoço, fui ao gelado! Agora vêem os mas, só corrigi já depois do gelado comido, o nervosismo, os electrólitos, a banana e alguma adrenalina, tudo ajudou para subir a glicémia, mas o esforço deveria ter "obrigado" à descida. Acho que me faltou insulina lenta! Já tinha passado quase 9 horas. Poderia ter dado mais rápida para evitar uma subida tão pronunciada, mas também podia provocar uma hipo com a intensidade do esforço, que teria de corrigir com um gel e entretanto "partia" o motor e nem acabava, ficando para lá dos 23 que não terminaram, ou outra coisa qualquer, isto tem vezes que "não é matemática"!
Nesse sábado 18/7, pelo calor que fazia, ninguém teve o trabalho facilitado. Pretendo salientar a importância de "estar informado" sobre as oscilações durante o dia, com isso interagimos em conjunto, criamos uma certa "emancipação" da patologia. Continuo a achar que devia ter dado a dose normal de lenta, é que aquela posição 22 não a tirava a ninguém pá!
Desporto bom,
casf
